Quero correr face ao mistério
Sentir em carne daquilo que sou
Vultos que passam e morrem em si
Árvores que abanam sem nem por que
Quero morrer face a tudo isso
Implorar por sementes desgraçadas
Subir imensamente em pacto profundo
Quero o mundo todo aos meus pés
Imaginar a face tremer ao pé da sombra
Quero te envolver em estilhaços de vidro
Pernas, corpos, pedaços de gente
Uma sala, uma mesa; sem sentido de dor
Quero degustar sua face em noite quente
Sentir o lábio que adentra o que sou
Morrer em lagrimas doces e cristalinas
Acordar do sonho em labirinto envolvente
Quero que veja; face a tudo que vejo
Imergir do corpo em queda inútil
Atear fogo ao semblante da tua fachada
Hoje vou bater no peito e rir de Deus
Quero enxergar a face do meu erro
Em meio ao desprezo de um barco ao mar
Contorcer aos caracóis que vejo
Caos que atormenta a pele da menina
Quero navegar a sua face cinzenta
Cores que se alimentam da falta do ser
Inverter a ideia de simplicidade tímida
Quero trazer à tona os sons do amanhã
Ike Ferreira