As vezes me vejo escravo de reis que ainda não fui.
E, por consequência, sinto me rei de terras que nunca tive.
Gosto de saber-me terra de tempos em que fui nada.
E nadei nas profundezas do desconhecido
Talvez, aquilo que vi ainda não tenha vivido
Mas te vi, na imensidão do que sou.
Talvez eu seja assim mesmo
Talvez eu seja em ti, a minha própria ausência
Embora minha ausência signifique todo meu esplendor
Não se pode viver naquilo que não está escrito, será?
Será de ardor a dor de uma paixão?
Talvez paixão seja mesmo o que estava por ser dito.
E por não escrever deixei-te correr por entre as mãos.
Hoje moldo-me por mãos de artista.
Trago a concretude das coisas que nunca fui, e que por consequência de nunca ser, tomei a liberdade de ser exatamente tudo o que quis.
Apesar do teor de despedida, essa é uma carta de reencontro.
Somente quem não teme a morte, dela se faz escravo.
Somente quem não teme a vida, dela se faz sagrado.
Eu, temo os dois, a vida e a morte.
Por isso não deixo nunca o viver para depois, pois morro a cada dia.
Mas não tenho medo de ser rei de tudo que conquistei
E ao conquistar-te enchi-me de ti meu amor
Encherei-te de mim toda a ausência do que sou, e assim sentirás ainda mais forte meu calor
Vida minha meu amor, contigo fui ao céu e retornei a corpo nu, suado, arrastado por todos os lados.
Das minhas conquistas na vida, valorizo as que me deixam nu contigo em nuvens de lençóis carregadas e prontas para chover.
Hoje somos escravos um do outro, somos Rei e Rainha, somos livres e é isso que faz do nosso reino sem limites.
Ike Ferreira