IMG_1818.JPG

 Tenho em mim uma dificuldade imensa em vender coisas, para mim quando uma coisa ganha um preço ela acaba por essência perdendo seu valor. A coisa é tudo que pode ser qualquer coisa, um nada infinito, cheio de possibilidades. Ao acorrentarmos as coisas com etiquetas com números, que nada mais são que códigos pré estabelecidos pela sociedade, estamos, nesse exato momento assassinando uma ideia e transformando-a em um produto a ser exposto em uma montra ou prateleira de uma loja qualquer de um beco de lugar nenhum. Veja o ócio, por exemplo, o ócio tem um valor inestimável, mas o preço que pagamos pelo ócio é a falta de credibilidade, eu vejo o ócio como um companheiro, e espero que me acompanhe a vida toda. Nada me paga uma tarde bem deitada em uma rede sem fazer nada, o fazer nada significa poder imaginar tudo. Ser meu mundo por completo, frações de segundos viram eternidades, as pessoas julgam que estou dormindo no ponto. Eu estou no auge do movimento das coisas internas, tentando ligar os pontos, no meu próprio universo vejo absurdos e conjugo ideias sem nexo. Tento mesmo enxergar as coisas que não fazem sentido nenhum. Jacarés da cor do vento, paredes inóspitas de uma árvore sem fronteiras, cabeças ambulantes em formato de amarelo cor de amargo, borboletas aquáticas que voam em sabonetes cor da pele. Pele? Cor? Use a sua imaginação, para mim a pele era transparente. A verdade é que, muitas vezes, é quando eu abro os olhos que vejo as coisas com os valores invertidos.
A rede me custou duros 50 euros, o seu valor? Inestimável.

Ike Ferreira