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 Se me pego a pensar sobre o relevo das montanhas ao horizonte, e com a profusão de raios inquietantes e fervorosos que surgem por detrás dos pensamentos confusos de uma tarde eterna. É aceitável que tudo se perca em flores em meio aos campos já quase secos no decorrer do inverno. Abrimos todas as portas das possibilidades e assim seríamos possivelmente eternos. Como o brilhar de uma estrela, que apesar de não serem eternas, duram o bastante para que gerações possam se orientar ao cair da noite. Eu mesmo nunca presenciei a morte de uma estrela
É portanto um tanto óbvio que o estremecer de cores que hoje enxergo ao longe seja mais um fruto de eventos de características naturais como um por do sol. O por do sol é o responsável pela interligação do dia com a noite, somente após o por do sol é que podemos enxergar as estrelas. Mas isso também me parece óbvio, e creio que a si também. Porém não convém misturar o que são ideias de nuvens alaranjadas com a própria laranja em si, sendo que o segundo apenas cedeu sua característica cromática a um momento abstrato do caminhar de um dia. Tomados alguns minutos, ou instantes de tempo indefinidos a laranja perde totalmente a importância pois a cor daquela mesma nuvem agora já está mais para um lilás quase roxo, quase como uma berinjela não tão escura. Mas é claro que não estou falando de berinjelas e laranjas e nem mesmo quero sair daqui com alguma receita de suco exótico para a dieta do próximo verão.
O que eu quero é mesmo aproveitar a brisa calma e fria que vem do Tejo. Deixar todo esse papo furado de lado e saborear, como quem saboreia toda uma salada de frutas no aspecto cromático do horizonte, e poder desfrutar o silêncio úmido do por do sol.
Logo então um horizonte abstrato se fez possível. E eu nem cheguei a falar do vermelho morango que surgia por detrás das nuvens que cobriam o sol.

Ike Ferreira