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 Gostaria de passar um tempo escrevendo sobre nada. Não importa que tipo de nada. Gostaria de falar sobre um nada abstrato como se o que viesse a ser escrito realmente não fosse sobre nada. Como se escrevesse para ouvir o barulho do lápis a riscar as páginas do meu caderno, escrever e ver o grafite do meu lápis lentamente, letra após letra, palavra após palavra, deixar rastros de pó de grafite que sujam a base da minha mão e borram também as páginas do meu caderno sobre nada, um nada com algumas palavras que não dizem coisa alguma e um borrão despropositado e involuntário.
Nada.
Quero assim poder registrar uma necessidade absoluta de silêncio, um abraço oculto na característica de ser inexistente. Algo que não existe não é nada. Mas a inexistência de si mesmo.
Nada do que eu possa escrever aqui vai mudar ou alterar coisa alguma pois o meu propósito aqui é realmente nada dizer. É como permanecermos calados até em pensamento. Não é nada. É nada.
Como quem mergulha de encontro ao desconhecido, as coisas que ainda não são, ou aquelas que nunca haverão de ser. Uma escrita despropositada e que não tenha mesmo nada a dizer.
Gostaria de passar um tempo escrevendo simplesmente por escrever.

Ike Ferreira