José

José gosta de andar sozinho
Caminho sem caminho
José não sabe onde vai
José vai
José não chega, encontra.
Sem se dar conta... 

Chegou.

José caminha ao vento
Assim, sem lenço nem documento
José vai e volta 
Gosta de contar histórias
Ontem mesmo
José voou

Agora que voa, enxerga.
O mundo tem outra forma
Aliás, sem forma
Sem norma, sem erro, nem perdão
José perde a razão
José ouve, observa
José...
Teimoso José!

José gosta de Pessoa 
Assim, feitas de Barros
Tudo que é árvore, pedra, vento
A ele interessa
José gosta de andar sozinho
Caminho sem caminho
Sem pressa 

José agora enxerga pessoas
Consegue ver José 
José que em outros tempos
Também questionava
Trazia dúvida à razão 
Razão de ser
José.

José gritava!

E agora, José?
José, pra onde?

José?!

José anda sozinho
Caminho sem caminho
Sem erro, com dor, com cor
Enxerga até escuridão 
Árvore sem flor
Pássaro que não voa
A escura sombra José.

José com medo e sem cor 
A memória regressa
Ora sombra, trapaça, velha pirraça!
Se pássaro não voa, não interessa!
E árvore que é nua pode estar dormindo,
Em outra estação 

E Pássaro que é Pássaro voa!
Coração José!

José retorna à razão 
José segue, como flor, como nada
esconde no campo, na selva
Em meio à multidão
Mas José agora já é outra pessoa

José? 

Não... 

José.